Blog do César Santos
Ela foi eleita prefeita de Mossoró com quase 69 mil votos – mais de 52% da população votante. Porém, por decisão da Justiça Eleitoral, não teve o direito, até aqui, de exercer o mandato confiado pelo povo. Mas, Cláudia Regina está viva politicamente e cheia de esperança por um futuro melhor.
Nova presidente do diretório municipal do Democratas (empossada na sexta-feira, 28) e vice-presidente estadual do partido, por convite do senador José Agripino Maia, Cláudia assume a missão de reconstruir a sigla, que foi esvaziada com a saída da ex-governadora Rosalba Ciarlini e seu grupo.
Um dos primeiros desafios será “segurar” a bancada democrata na Câmara Municipal, uma vez que os vereadores Flávio Tácito e Manoel Bezerra de Maria exigem garantia de renovação de mandato para continuar no partido.
A atenção à nova missão não é diferente do olhar de Cláudia Regina para Brasília (DF), onde ela espera reconquistar o direito de administrar Mossoró, por decisão dos ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Antes de empossada presidente do DEM, Cláudia Regina tomou o “Cafezinho com César Santos” na tarde de quinta-feira (27), quando conversou sobre os novos desafios e os processos que esperam por julgamento no TSE.
JORNAL DE FATO – O trabalho de reconstrução do Democratas de Mossoró, que a senhora assume agora, tem o sentido novo para a política e projeto futuro?
CLÁUDIA REGINA – Assumimos a presidência do diretório municipal para reestruturar o partido na cidade. Essa é a missão inicial, confiada pelo nosso presidente senador José Agripino. E dentro dessa reestruturação, vamos trabalhar em Mossoró e região a nova tendência do DEM nacional, que é exatamente valorizar a opinião das pessoas, para que elas possam contribuir, através de suas ideias, para o desenvolvimento de sua cidade e região. Como nós já temos um trabalho nesse sentido, acreditamos que essa nova missão será bem-sucedida.
EXPLIQUE melhor essa nova tendência do Democratas.
TODOS os trabalhos que nós tivemos a oportunidade de executar com ou sem mandato ou cargo público sempre foram ouvindo a opinião das pessoas, traduzindo os seus desejos e transformando esses desejos em projetos. Essa é a nova tendência do nosso partido, que vai se aproximar ainda mais das pessoas, para que todos possam ser ouvidos dentro do projeto de desenvolvimento da cidade e região. Esse desafio é prazeroso, porque é a forma como gostamos de trabalhar.
O DEMOCRATAS, que já foi PDS e, posteriormente, PFL, sempre teve a cara do rosalbismo em Mossoró, grupo liderado pela ex-governadora Rosalba Ciarlini. Agora, sem esse tradicional agrupamento político, qual será a cara do novo Democratas?
A CARA de sempre. A cara do povo de Mossoró. A cara de quem respeita o que o povo quer, as opiniões da população e faz com que eles tenham voz e vez. O agrupamento que dirigiu o partido por longo tempo, que eu tenho um grande respeito e admiração, sempre fez assim, com a força do povo, com respeito à vontade do povo, para, através da instituição partidária, transformar os desejos em realidade.
A SAÍDA de Rosalba do Democratas esvaziou o partido em Mossoró. O diretório fechou e só agora está reabrindo. Centenas pediram desfiliação. Por onde a senhora vai iniciar a tarefa de recompor o quadro de filiados?
FOI de suma importância a participação desses quadros durante todo esse tempo que o agrupamento político (rosalbismo) ficou à frente do partido. É indiscutível o trabalho que foi feito. Dentro dessa nova realidade do partido, com a força das novas ideias, também se abriu um espaço muito grande para novos filiados. O Democratas está com nova sede, e só com o chamamento que fizemos para conhecer essa nova estrutura, o partido recebeu novos filiados. Então, são esses novos democratas, somados aos que já estavam, que acreditam na força do trabalho e da união e que juntos vamos conseguir fazer a nova estruturação do partido. Acredito que caminharemos bem, em busca de novos projetos e de um futuro bem melhor para todos.
O ESVAZIAMENTO do partido, repito, com a saída do rosalbismo, deixou os dois vereadores democratas, Flávio Tácito e Manoel Bezerra de Maria, preocupados com o projeto de reeleição. Inclusive, eles não descartam trocar de partido para viabilizar a renovação de seus mandatos. Como a senhora vai equacionar essa dificuldade?
NÓS vemos as eleições como consequência de um trabalho político que você fez durante os anos anteriores. Eu não acredito em voto simplesmente por voto. Eu acredito no voto como reconhecimento de um trabalho. Então, o que é que nós estamos defendendo nessa nova estruturação do partido: estabelecer um plano de trabalho, em que nós vamos ter várias ações com a participação popular, como forma de aproximar o partido dos anseios das pessoas e para que essas ações possam ter resultados satisfatórios em prol da cidade. A partir daí, a gente acredita que, com a participação dos atuais vereadores e dos pretensos candidatos a vereador, é possível que esse trabalho seja reconhecido pelo eleitor, o que sugere a renovação dos seus mandatos. Não acreditamos no fato isolado, aquele que o candidato faz uma estratégia para angariar votos nos três meses de campanha eleitoral.
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MAS, se o partido não construir um ambiente eleitoral satisfatório, com chapa forte ou a formação de coligação com bons candidatos, muito dificilmente os vereadores conseguirão alcançar o coeficiente eleitoral para renovar os mandatos. Essa garantia o Democratas vai dar?
A NOSSA garantia é que, se somar ao projeto que nós estamos estabelecendo com vários amigos novos que estão chegando, eles (Flávio e Manoel Bezerra) vão ter espaços para buscar a renovação do mandato. Se o trabalho for bem realizado, os nossos candidatos terão o reconhecimento da população. Todos eles sabem da forma como eu sempre trabalhei, sempre buscando novas ideias, e é assim que o novo Democratas vai atuar em Mossoró e região.
A SENHORA fala de novas ideias, mas o Democratas é o de sempre, com a cara do agripinismo, e que vem experimentando esvaziamento desde os últimos tempos. Que novas ideias, então, são essas?
QUANDO fui vice-prefeita de Mossoró (Cláudia foi vice da primeira gestão de Fafá Rosado, entre 2005 e 2008), eu não fiquei apenas sendo vice. Eu montei um trabalho com profissionais liberais para ajudar na prevenção do uso de drogas. Não era uma missão ou obrigação da vice-prefeita, mas a condição de juntar as forças para encontrarmos alternativas de solução sempre foi a nossa forma de trabalhar. Quando eu fui vereadora (de 2009 a 2012), fiz a mesma coisa, quando estabeleci o projeto Mossoró pela Paz, aonde nós íamos para debaixo dos postes das ruas da cidade ouvir a popular e usar a tribuna da Câmara Municipal como um espaço para defender o interesse do povo.
A SENHORA sugere que os dois vereadores do Democratas façam esse trabalho para viabilizar o projeto de reeleição? É o suficiente para garantir a renovação dos mandatos?
UMA eleição não é só isso, claro, mas estou aqui colocando como o trabalho próximo das pessoas pode ser reconhecido com o voto. Quando assumi a Prefeitura de Mossoró, quebramos a personificação do cargo e da instituição e estabelecemos o “Todos por Mossoró”. Dissemos, com isso, que a cidade pertence a todos e que todos que quisessem juntar a esse projeto, estávamos de braços abertos. Foi daí que surgiram grandes projetos, como por exemplo a Base Integrada Cidadã e o Paz e Luz, que zerou em 40 dias o nível de homicídios que havia no bairro Santo Antônio (zona norte).
COMO surgiu essa ideia?
ISSO foi graças a uma senhora que encontrei quando fazia uma visita ao bairro. Existia um esgoto a céu aberto na Estrada da Raiz e eu fui lá verificar in loco. A senhora se aproximou e disse: “Prefeita, eu quero pedir uma coisa.” Eu pensei que era algum pedido pessoal, mas ela disse: “Eu queria ter o direito de voltar a sentar na calçada, coisa que não faço há 13 anos, por falta de segurança.” Voltei para o gabinete, juntei os secretários e, tomando por base o que estava sendo feito no Rio de Janeiro (Unidades Pacificadoras), criamos a Base Integrada Cidadã e o Paz e Luz. Tudo fruto de ouvir à população, sentir os anseios das pessoas, que é a nossa obrigação. Então, é isso que a gente quer no novo Democratas. Ocupando cargo público ou não, quem se dispor a cumprir essa missão, será bem recebido no nosso partido.
A SENHORA tem 12 processos de cassação de mandato aguardando julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE); logo, eles não transitaram em julgado. É aí onde a senhora alimenta as esperanças de retomar o cargo de prefeito de Mossoró?
NÓS estamos com os processos a entrar em pauta no TSE. Acreditamos e estou muito confiante na possibilidade de a gente ser inocentada, porque não pode ter coisa pior do que você ser acusado de algo que você efetivamente não fez. Acredito na justiça de Deus e dos homens. Estamos aguardando o resultado final desses processos, com muita tranquilidade e confiança.
OS MINISTROS do TSE estabeleceram o debate, no caso da presidente Dilma Rousseff, de juntar todos os processos em um só julgamento. Isso ocorrendo, por consequência, a sua situação será contemplada? Há essa esperança?
O FATO colocado é semelhante ao nosso. Nós só temos uma única acusação, desmembrando em vários processos. É a mesma coisa que se dá com a presidente Dilma. Então, a gente acredita que a Justiça é justa. Se fizer com um, consequentemente, tende a fazer com outro.
QUASE dois anos depois de ter sido afastada do cargo de prefeito e de não ter uma missão política efetiva, em que a senhora se sustentou para se manter viva?
PRIMEIRO, na força e na fé que eu tenho. Eu acredito na justiça de Deus. Penso que tudo isso vai se contornar e vai voltar ao normal a partir do sentimento da justiça que vai ser realizada. Uma outra coisa que me sustentou muito foi a voz das ruas, os abraços, o carinho, a confiança que as pessoas depositam em mim. Isso nos fortalece e nos dá a certeza de que, independentemente de qualquer cargo ou qualquer função pública, nós temos a confiança do povo de Mossoró.
O ECO das ruas, como a senhora cita, é muito mais por sua popularidade ou pela impopularidade da atual gestão?
CLARO que eu me dou bem com as pessoas e as pessoas se dão bem comigo. Por quê? Porque eu chamo as pessoas pelo nome, conheço cada uma delas, conheço cada canto de Mossoró, convivi e convivo nas comunidades, e isso facilita muito o nosso contato, a nossa amizade, o carinho das pessoas. Também acredito que o que tenha impulsionado as pessoas a desejar o nosso retorno sejam as dificuldades pelas quais a gestão municipal está passando.
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