Famílias que vivem Tibau se unem contra amaeça de expulsão
As mais de 200 famílias que vivem nas comunidades de Lagoa de Salsa e Vila Nova, Tibau, estão lutando contra a ação de reintegração de posse que as expulsas das terras nas quais vivem e produzem desde 1996. Para reivindicar seus direitos e sensibilizar a sociedade, moradores organizados junto a diversos movimentos sociais realizarão um ato público nesta sexta, 24, às 8h.
Entre os movimentos e entidades que apoiam os moradores das comunidades estão a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Rio Grande do Norte (FETARN), o Sindicato dos Trabalhadores Rurais do Município de Tibau, a Comissão Pastoral da Terra (CPT), a Câmara dos Vereadores e a Prefeitura Municipal de Tibau, associações e cooperativas locais.
Joilma Barbosa, que faz parte da organização das movimentações em defesa das comunidades de Lagoa de Salsa e Vila Nova, afirma que “o ato de sexta-feira é uma ação de resistência. Dizemos não a essa injustiça que quer nos expulsar de nossas terras”.
Para este ato, os moradores e movimentos que os apoiam pedem a participação da sociedade, dos sindicatos e demais entidades que possam se mobilizar em seu favor. “Essa área é a única Zona Rural da cidade de Tibau. Pedimos para que os sindicatos rurais de municípios vizinhos, as associações e a sociedade se engajem nessa causa em defesa dessas famílias que tanto têm lutado para permanecer nessas terras”, comenta Zé Carlos, da Comissão Pastoral da Terra. “Tudo que a gente tem lá são conquistas nossas, tem mais de 200 famílias na comunidade e a gente não sabe o que é que faz. A gente está pedindo a todas as autoridades que estejam junto com a gente, todas as entidades, que arregacem as mangas e continuem nessa luta com a gente. É uma luta muito difícil, mas a se a gente se unir, a gente vai ter força e conseguir vencer”, afirma Francisca Ozelita, moradora e membro do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Tibau.
Sobre a questão de posse das terras e a luta:
O território em questão não possuía nenhuma documentação e em 2005, depois de ter sido esvaziada a convocação pública para apresentação de propriedade, e ser concedido os Títulos de Terra aos moradores pelo Governo do Estado da época, uma pessoa conhecida por Nóbrega, que diz ser o proprietário, entrou com ação de reintegração de posse, que entres idas e vindas, foi concedida na semana passada pela Juíza Uefla Fernandes, da Comarca de Areia Branca, determinando o período de 1 mês para que os moradores saiam de suas terras.
Desde o surgimento do ‘tal dono’, moradores temem perder tudo o que construíram e sua fonte de sobrevivência, a terra, onde produzem, plantam e criam animais. Dona Terezinha, uma das moradoras mais antigas do local, afirma que: “Quando a gente chegou aqui não tinha nada. Hoje, pode ir em qualquer terreno daqui que você vai ver nossas hortas, nossos pés de frutas, nossas galinhas... A gente vive disso e da pesca. Se saímos daqui, vamos viver do quê? ”.
Importante ressaltar especialmente a organização e resistência das mulheres tibauenses no processo de disputa pelas terras em que vivem: “a partir da nossa organização, com a Marcha Mundial das Mulheres, nós fomos conquistando voz e voto nas associações, sindicatos e na luta pela nossa autonomia e nossos territórios. Já nos mobilizamos em frente ao fórum onde a juíza ia despachar a reintegração de posse em 2012 e recuou, já participamos e construímos a Caravana Agroecológica e Cultural de Apodi, em que demos visibilidade à nossa situação a nível regional e nacional, realizamos mobilizações no 8 de março, participamos das comissões de luta pelas nossas terras e vamos levar nosso clamor para Brasília na Marcha das Margaridas em 11 e 12 de agosto junto a cem mil mulheres”, é o que diz Tatiana Muniz, Moradora de Lagoa de Salsa, pescadora e militante da Marcha Mundial das Mulheres.
O ato e audiência pública
Com concentração na entrada da cidade de Tibau, moradores de Vila Nova e Lagoa de Salsa junto a diversos movimentos farão ato público que percorrerá ruas de Tibau e acabará na audiência pública na Câmara de Vereadores do Município a fim de reunir força política e jurídica em favor da permanência do povo nas terras.